Errar cem vezes, refazer duzentas

A imagem mostra um cesto cheia de linhas de crochê dentro

Quando eu comecei a fazer crochê, logo nos meus primeiros trabalhos, eu tinha uma preguiça enorme de desfazer. Muitas vezes cometia erros durante o processo, percebia esses erros logo em seguida, mas não gostava de desmanchar e refazer o trabalho. Deixava os erros passarem e no final, o trabalho não saia como eu esperava. Seja porque fiz pontos a mais, deixando o trabalho enrugado, seja porque fiz a menos, repuxando peças que deveriam ser planas.

Veja bem, não é que errar seja o problema. Estamos falando de peças manuais, e erros vão acontecer. O problema era a preguiça. Pressa e preguiça não combinam com atividades manuais. É preciso ter paciência. Paciência com seus erros, com seus processos, e com suas necessidades de voltar atrás e refazer. Eu tinha muita, muita preguiça de desfazer pontos e carreiras, e muita, muita pressa para ter as peças prontas. Depois de brigar muito com minhas linhas e agulhas, aprendi que essa postura de nada me adianta. Se eu quero um resultado que me agrade, se eu quero peças bonitas e funcionais pra manter na minha casa, em alguns momentos, é necessário refazer.

Acredito que, parte da dificuldade em desmanchar um trabalho, ainda que não seja todo o trabalho, seja da nossa dificuldade em admitir que erramos. "Não acredito que errei isso", eu pensava, sempre que via que alguma coisa estava errada na minha peça. Essa semana desmanchei quatro vezes a costura de um Amigurumi que estou fazendo. No cansaço de precisar refazer, respirei fundo, dei uma pausa e resolvi continuar em outro momento. 

Paciência com nossos processos, e teimosia de continuar insistindo neles mesmo assim. "Dessa vez não deu, mas na próxima vai ficar melhor" é o que eu repito pra mim, a cada carreira desmanchada, a cada costura refeita e a cada peça finalizada, mas que, por algum motivo, não saiu como esperado no meio do processo.

Não adianta ter pressa. Às vezes, é melhor ter um prazo mais largo, demorar algumas horas ou dias a mais, levar mais tempo e atenção na costura e nos pontos, e até mesmo deixar o projeto um pouco de lado, descansando, que terminar com pressa e com raiva, porque a peça "precisa" estar pronta. Nesse mundo movimentado como o nosso, em que precisamos ser produtivos a todo momento e ter o desempenho de máquinas, falar em prazos maiores e ficar um tempo ocioso parece absurdo, mas por mais absurdo que isso possa parecer, ainda é necessário. Pressa e impaciência só vão trazer frustração e revolta com nossos projetos. E não queremos uma relação baseada em frustração e revolta para algo que nos faz tão bem.

Acredito que seja uma questão de equilíbrio. Nem o perfeccionismo doentio que não aceita erros, nem a pressa e a preguiça de não querer ver o que está errado. Abertura para reconhecer os erros, paciência para desfazer e humildade para fazer de novo. Deixar a perfeição e a performance com as máquinas, e nós ficamos com nossas atividades manuais, com seus erros, seus "desmanches" e retrabalhos. É com paciência e com tempo que as coisas florescerem, e não é diferente com a gente e nossas atividades. Não é incrível como se aprende muito fazendo crochê?

Errar cem vezes, refazer duzentas Errar cem vezes, refazer duzentas Reviewed by Marina Menezes on março 02, 2022 Rating: 5

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